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Ensaio sobre a música contemporânea

Eis o que est feito e como se expressa

Eis o que est feito e como se expressa. O caos e a confuso permeiam os imaginrios e isto o que viabiliza a criatividade. Depois da catstrofe, surge a incerteza, e da incerteza, um novo recomeo, e deste recomeo, uma nova histria. O tempo da incerteza varivel, e ningum pode defini-lo nem temporaliz-lo com preciso. Neste caso, ainda estamos bem no comeo, bem no limiar da reestruturao, nas bordas e barreiras que nos esto lentamente separando das tristezas passadas para um novo tempo. Contudo, a incerteza traz consigo a insegurana, e a insegurana, o vazio. Neste vazio, tornamo-nos seres sem referncia a seguir, uma vez que nosso passado nos espelha uma negritude de desesperana, a qual tentamos, a todo custo, desfazer em imagens abrandadas de sentimentos disfarados. Sendo assim, instaura-se no outro caminho esttico que no o da incerteza e da insegurana, o dos seres sem referncia que se expressam sem referncia. intil busc-la no presente momento, assim como foi intil busc-la h cinqenta anos e, possivelmente, ser intil nos prximos cinqenta. Este raio de um sculo o mais importante para a reestruturao. Convivendo bem com a misria, ergueremos as estruturas certas para a renovao das geraes futuras, no a prxima certamente, mas talvez seus netos ou bisnetos. Alguns de ns possivelmente viveremos para ver.

A esttica da arte fragmentria nos foi prevista pelo maior poeta e fragmento humano de Portugal do sculo XX, Fernando Pessoa. Este homem dissolveu a alma esttica e sua essncia criativa, tornando-se no dois, mas quatro, cinco ou ainda mais sub-homens expressivos que ele concretizou em poemas. Tomando-lhe o padro e o exemplo, talvez ainda um tanto imprprio poca, visionrio e futurista, procuraremos trazer msica o seu correspondente esttico. De tal sorte que seremos no um, mas diversos compositores com diversas tendncias, pensamentos, Leitmotiven e estticas. Receio ser esta a nica forma de produzir arte plena nos tempos atuais, em que nos deixamos iludir pelo prevalecimento do momento histrico, iludindo-nos como se j de tudo soubssemos ou dominssemos. As metforas do mundo que moveram as linhas estticas das artes nos ltimos sculos movero igualmente neste, e, a fim de interpret-las e procurar dar aos nossos contemporneos um raciocnio esttico e uma linha produtiva que lhes caiba, escrevemos este ensaio.

Muito se falou em dualidade ao longo do tempo. Creio, esperanoso, que no se tenha, porm, como eu pretendo fazer agora. A dualidade dos tempos barrocos se expressa absoluta, contrastando idias metaforizadas a partir de eventos reais radicalmente opostos, que se completavam e antagonizavam de maneira perfeita. Do branco e do negro surgem a felicidade e a tristeza e da todas as outras antteses. Este o ponto de partida que procuraremos fragmentar ao mximo ao longo de nossa proposta criativa. Um homem um organismo muito mais complexo do que usualmente definimos, um ser que no se limita a descries mnimas que lhe listem caractersticas absolutas e que, em seu absolutismo, excluem todas aquelas que lhe so contrastantes, de sorte que um homem bem-humorado e romntico jamais poder demonstrar brabeza ou impacincia, bem como jamais poder pensar em casos de paixes passageiras, a no ser em casos muito especficos e extremos. A funo deste homem no mundo j foi cumprida e j faz parte do passado. A mim parece-me que estamos precisando de conflitos internos, de problemas que nos motivem a pensar, repensar e nunca definir. Na dvida, caminhamos para o futuro de forma preparada, pois estamos aptos a lidar com quaisquer adversidades, j que no temos referncia. A dualidade profunda deve ser explorada e retirada do mago do sujeito, mesmo que ele dela no tenha conscincia, de modo a faz-la emergir de suas entranhas sentimentais e expressar-se por meio da arte. Um homem sem referncia um arqutipo social to forte que se faz presente em todos aqueles indivduos da raa humana que vivem de maneira civilizada e que acompanhem o que ocorre com os seus contemporneos e convivas, seja na mesma cidade ou na mesma grande sociedade civilizada. Esta referncia produz o caos ntido em cada famlia humana de uma sociedade ocidentalizada, em runas, em decadncia mesmo nos momentos mais alegres e compreensivos. O movimento econmico nos fez basear todas as esperanas nas novas aquisies, nos negcios, nos computadores e na tecnologia. O movimento poltico nos fez acreditar em Naes e em Nacionalismo, assim como o movimento cultural nos fez partidrios ferrenhos de nossas equipes esportivas. Este importante momento mantm um nmero de pessoas referenciadas to somente no momento atual, que vivem para e pelo movimento socioeconmico e poltico-cultural, um nmero de pessoas referenciadas no passado, em busca de um ideal melhor, antiquadas e crentes na Igreja Catlica, por exemplo, alm de um nmero de pessoas que oscilam entre as duas manifestaes. Talvez estas sejam as piores, pois os tolos que tm certeza de sua posio e a tomam como parte integrante e imutvel de sua vida arrastam-se pelos anos vivendo tranqila e plenamente dentro de seu mundo paralelo e compartilhado com seus companheiros de ponto de vista sem muito a contribuir nem a prejudicar. Os oscilantes, contudo, tornam-se indivduos perigosos, pois questionam, no aceitam e duvidam das realidades que lhes so apresentadas. Criam-se indivduos problemticos, que escoam seus pensamentos e suas energias de maneira prejudicial. Minimamente, tornam-se almas fragmentadas, humanos que no sabem em quem ou em que confiar, nos limites traados por outrem cuja veracidade j no se tem mais certeza. Este o homem que comeou a vida catlico, chegou ao limiar da adolescncia no atesmo, viveu o princpio de sua fase adulta reespiritualizando-se e morreu crente e temente a Deus. Este homem fragmentado o paralelo perfeito ao futuro da humanidade. Como expressei j no comeo deste ensaio, vivemos no momento da incerteza, talvez tenhamos passado j pelo atesmo e estejamos entrando no momento de aceitar levemente que h mais no mundo que nossos prprios narizes, mas definitivamente estamos longe do momento de voltar para Deus. Qual ser, ento, a funo da arte civilizada, se no expressar esta orientao geral da vida em sociedade?

Para citarmos alguns outros exemplos, estamos num estgio em que tudo nos parece submeter ao controle humano e, ao mesmo tempo, estar to distante. Chega-se Lua, mas no se comanda os movimentos inusitados e imprevisveis da Natureza. Movimenta-se ao redor do planeta em menos de vinte e quatro horas, mas no se consegue o perdo de um amigo, ou o emprego que tanto se desejava, no mesmo perodo de tempo. E, o mais estranho, em um perodo curto de uma hora, um homem no Rio de Janeiro chega a So Paulo e ainda consegue comer um lanche no aeroporto de Congonhas, mas outro semelhante seu no se desloca do subrbio ao centro daquela ou desta cidade. Economias dependem de elementos desprovidos de fora vital, homens dependem e movem uma estrutura da qual no tm conscincia, e uma revoluo em massa, nos tempos atuais, simplesmente invivel, porque no h comunicao suficiente entre as partes. E isto timo.


A maioria de ns batizado ao nascer e no freqenta a Igreja ao crescer. Casamos na mesma instituio que nos acolheu e abenoou no momento em eu viemos ao mundo, e nossos filhos seguiro os exemplos dos pais de se virarem para outras organizaes religiosas de duvidosa inteno ou do mais indiferente e pecaminoso descaso e abandono Me. A proposta do ensaio no uma converso em massa, de sorte que nos limitaremos a expresso e nos absteremos de fazer maiores comentrios acerca da f social, para que o objetivo no seja posto de lado e causemos discusses imprprias entre os possveis ledores. O que realmente se deve interpretar deste ltimo exemplo simplesmente que vivemos cercados por uma instituio que no faz realmente parte da nossa vida, que faz e no faz, est presente e, ao mesmo tempo, ausente. Guia-nos mais por conveno que por sinceridade, o que talvez seja uma falha da prpria instituio.

Percebi que era um homem fragmentado quando notei sentir prazer e pesar na morte de meus entes mais queridos. Ao passo que as piores sensaes se convertem nas melhores, e a doena, na sade. O limitar entre a loucura e a sanidade estaria banido se no fossem as correntes ideolgicas, e a elas devo ser grato. No digo com isto que todo homem fragmentado, ou que deseje s-lo, deve sentir prazer em sensaes condenveis e hediondas. Deve to somente abrir a mente para suas prprias sensaes e perceber se so absolutamente correspondentes e auto-complementantes ou se chocam entre si e conflitam. muito provvel que qualquer homem leitor com minimamente trinta anos tenda mais para a ltima opo, se for sincero consigo e com os seus convivas. Dificilmente, encontraremos homens rasos vivendo em solo terrestre no sculo XXI, pois os que aparentam s-lo no esto no auge de sua franqueza e sapincia. Alguns, porm, tm a profundidade de um poo cavado por um fazendeiro de modo a hidratar sua famlia e seu gado; outros apresentam a extenso de todo um caminho da superfcie da Terra a seu centro. Nestes mais nos interessamos.

Propomos aqui uma reunio de homens criativamente ativos que no temam em reduzir suas prprias ideologias ao patamar das coisas mutveis e transitrias. Homens conscientes de seu papel num mundo em constante transformao que est caminhando tanto para a destruio final quanto para a salvao e o recomeo feliz. Por no sabermos, devemos expressar nossa insegurana. E a insegurana se expressa atravs da arte do homem que busca tanto o conforto do passado neo-clssico e suas firmaes tonais bem fechadas, quanto a esperana na nova tentativa formalista do mestre Arnold Schoenberg, a estupidez futurista, os afetos nostlgicos do Renascimento, a msica desconhecida dos gregos e dos egpcios e os novos caminhos do presente sculo. Organizar toda esta vastido de sentimentos complementares e contraditrios a tarefa do artista do sculo XXI. Limitar-se a uma ou outra escola continuar a tolice dos homens com referncia, coisa que j no somos. Portanto, devemos tanto dilatar ao mximo da liberdade todas as estruturas que nos foram passadas como segui-las obedientemente como perfeitos cordeiros aprendizes da Tradio. Eu compus trs ou quatro sinfonias, das quais nenhuma est completa e duas podem ser consideradas uma, pois as apresentei em seqncia numa verso e separadas em outra. So ambas o primeiro movimento, de tal sorte que podemos ter uma sinfonia com dois primeiros movimentos ou duas sinfonias com o primeiro movimento. A primeira destas sinfonias foi composta em 2007/8 para o meu curso de Composio, no devidamente valorizada, como se de esperar da academia. Fiz uma possvel seqncia de segundo movimento, inacabada e ainda com duas possibilidades de continuao. Desistindo da idia, em 2009, atribu a esta sinfonia a seqncia com um outro primeiro movimento de sinfonia que eu comecei a compor antes de ingressar na Universidade e terminei apenas em 2009. Nesta verso mais atual, temos um terceiro movimento que, na verdade, funciona como segundo, diferente do segundo movimento daquela primeira verso e que tem uma continuao em uma outra partitura, ainda no devidamente atrelada verso final da sinfonia, que eu no tenho a menor idia de como se vai estruturar ao fim de tudo. Temos a seguinte situao: dois primeiros movimentos de Sinfonia, inicialmente separados em duas obras, que se foram postos em seqncia musical. Cada um destes movimentos recebeu uma continuao prpria sob a forma de segundo movimento de sinfonia, ambos inacabados, dos quais um deles tem ainda duas possibilidades de continuao, escritas em diferentes partituras. Apenas a seqncia de um resistiu na partitura final, e uma possvel continuao est em arquivo independentemente editado.

Recentemente, recebi um impressionado comentrio de um de meus tutores universitrios sobre a divergncia bvia e sua impossibilidade de compreender como pude apresentar duas obras de carter to distinto, facilmente atribudas a dois compositores diferentes. Isto motivou meu ensaio, e, s por isto, j devo entender como qualquer pessoa tem algo a acrescentar na vida de seus semelhantes, por mais que lhes direcionemos desdm, despeito, amor, afeio, respeito ou desrespeito.

Provavelmente, jamais responderei pergunta se o sentido da arte ser formalmente perfeita, coerente s tendncias da poca em que ela produzida ou simplesmente atingir o pblico. E nem o quero. Transito entre formalismo, tendncia e sentimento. Quero atingir, repelir e interessar o pblico sobre a estrutura da obra que componho. Todas as outras possibilidades que se derivem destas trs bsicas (sentimento - interesse repulsa) me atraem e a partir delas que pretendo compor. Escrevo tambm para a sociedade e para mim mesmo. Adoro me expressar sob a forma criativa que mais conheo e domino, sentindo-me um grande mestre do passado, um mero estudante tentando superar suas prprias limitaes, uma forma individual auto-suficiente cujo nico intuito despejar suas emoes, bem como um profissional que faz de seu veculo artstico uma mquina de atingir pessoas. A msica para o mundo, para a sociedade e para o indivduo. Pouco me importa limitar-me a uma destas correntes e repelir as outras. mais interessante ser tudo.

Abranger tudo e todas as coisas o ponto mais importante da atividade artstica. Produzir obras que, ao mesmo tempo, atinjam o maior nmero possvel de pessoas (em todas as suas classificaes socioeconmicas e tnicas), revelem o mais profundo do eu artstico, tragam esperana e desesperana, faam amar e odiar, despertem o interesse e o desprezo dos crticos, versem sobre uma inegvel questo mundial e sobre o sentimento mais tolo e puro da juventude, alm de transitarem entre o mais rgido formalismo e a mais frouxa liberdade estrutural na mesma ou em vrias obras-, (deveria ser) o ideal artstico a direcionar as atividades de todo artista contemporneo. O artista fragmentado cria mundos e submundos paralelos e convergentes, particulares e prprios, que do aos espectros criativos personalidade espectral prpria, estilo e realidade, apagando, ao mximo, a interferncia daquele ser real que a produz. Assim passamos da msica descritiva msica filosfica, da msica dedicada natureza msica dedicada a uma mulher, e a todas as outras dicotomias que se nos vierem a apresentar, bem como todas as suas subdivises infinitas que cada um de ns, com o devido cuidado ao labor esttico, tem capacidade de delimitar.

O homem um organismo to complexo de sensaes e pensamentos que jamais tal ou qual escola artstica bastar para express-lo em sua plenitude. E ainda se me parece que as artes so to inseparveis entre quanto as cincias humanas e as cincias exatas. Duma questo matemtica, apresenta-se uma problemtica fsica; dum evento histrico, emerge o fato social. Que papel de entrelaamento ainda espero eu de todas as artes que, se unidas, configuram veculo expressivo to mais coeso, denso, dinmico e certeiro? A resposta veio enfim. Da ltima obra apresentada ao curso de Composio V, Auditu lectuque (latim: para se ouvir e para se ler), entregue s traas do abandono binrio do microcomputador por meu esvaziamento expressivo, somente um trmino me pareceu satisfatrio. Um monstro, que sempre julguei inexistente e to real quanto o bicho-papo nos armrios e fundos de cama das crianas mundo afora, finalmente abriu seus braos para a minha mente. Um fantasma sombrio que, pelos ltimos sete anos, nunca se tinha avultado em minha direo. Um simples e bsico passo para a formao da solidez de um compositor sobre o qual eu jamais antes havia, com tanta importncia, parado para refletir. A misria da criatividade nula; a ausncia de inspirao; a dificuldade na traduo sonora de sentimentos; impotncia composicional crnica. Este final, que espero eu num futuro prximo poder se converter, naturalmente, em msica, por ora no supera as bases dos smbolos grficos, cuja objetividade comunicativa e expressiva momentaneamente satisfaz melhor a minha necessidade. Minha necessidade de arrancar fora a primeira camada epitelial de meus braos e a tampa do crnio duro com uma serra eltrica de autpsia, o protetor do meu crebro incapacitado, para que, ento, eu pudesse expressar a angstia de no conseguir contrapor nota a nota, acorde a acorde, sem que o todo fizesse um sentido perfeito, harmonioso e agradvel, satisfatrio s minhas prprias intenes iniciais, das quais eu h muito j no sou senhor.

Assustador. um processo tenebroso e inesperado que se opera e que impede que eu mantenha minha marca recorde particular de nunca ter passado sete dias, de um encontro a outro, ao longo dos trs anos em que venho sendo discpulo de Composio, sem escrever novas e novas partes, alm de msicas paralelas em estilos e gneros diversos, em geral fria e dolorosamente contidas, sob o risco de todos os contornos da minha existncia serem apagados e tudo o que me rodeia estagnar-se num compor eterno, num expressar contnuo de sentimentos que nasceram h muito tempo e que nunca partiro, de sorte que todo o tempo do mundo e toda a durao de uma vida no so suficientes para traduzir com plenitude.

E foi este o principal conceito que se afundou em mim ao longo dos ltimos meses. Uma barreira rompida, um dilema proposto, uma dificuldade inusitada, um monstro sem forma que anda a meu lado e ningum mais v. E que soluo dar a isto? Esta. C est. partitura da obra segue-se o seu fim lexical.

E espero que baste.

Ensaio sobre a msica contempornea


Por: Jorge Henrique Nunes Pinto

Perfil do Autor

Graduado em Letras (Portugus-Latim) e graduando em Msica (Composio e Regncia). (Artigonal SC #3390776)

Fonte do Artigo - http://www.artigonal.com/musica-artigos/ensaio-sobre-a-musica-contemporanea-3390776.html
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