O Abraço De Ana Paula
Author: Paulo Valena
Author: Paulo Valena
1 Bordando, D. Marieta pensa em sua vida e na vida do marido, Seu Ernesto, que est ali no terrao, na cadeira de balano, silencioso, cadenciando-se, entregue ao seu prprio mundo. , a velhice nos causa esse desinteresse por tudo... como se j nos despedssemos de tudo. - E no estamos, aos pouquinhos, dando o adeus final? Sorri por ter falado, exposto assim o que reflete em voz baixinha. Mas de um dia desses para c, adquiriu esse hbito de dizer o que sente. Borda o paninho para a neta que vir da nica filha, a Ana Paula. Ah, sua filha, razo de dar valor vida, saber que sua existncia no foi em vo, de si brotou a menina que hoje mulher, lhe dar a netinha. Se o Ernesto ganhasse a rua, visse o que h l fora! Ergueria o esprito, no se entregando a esse alheamento, contudo, teimoso, protesta quando lhe sugere que deixe aquela cadeira, veja gente, movimentos. - No Marieta. Prefiro ficar aqui. Tenho at receio de sair e ser assaltado. Com tantos trombadinhas por a! - T. Tudo bem, voc quem sabe. Ento no insiste, pois intil sua sugesto para que o marido saia, veja o mundo de fora. Assim os dias passam. A cadeira. O mutismo. Os olhos na rua embaixo, com a praa defronte, maltratada, com um ou outro casal e meninos jogando bola. E os carros circulando-a, apressados, ganhando as ruas transversais. Assim at que os olhos cansados entreguem-no ao cochilo rpido, enquanto a cadeira oscila ao peso do corpo gordo, disforme pela idade. A tarde envelhece. De uma residncia circunvizinha vem msica brega do momento. A voz da cantora no ritmo at agradvel de ouvir... Onde estar a Ana Paula a essa hora, no trabalho, ensinando, ou em casa, se cuidando para ser me? A barriga crescida. O sorriso no rosto moreno, de traos bem definido, bonito... Parecida com o pai, o Ernesto que na idade dela era um homem bonito. Hoje... Mas, quem pode evitar os anos que tudo transforma metaforseando-nos? - Errei! Exclama, desfazendo com a tesourinha a ptala verde no caule com a rosa vermelha. Retorna a bordar a folha, que aos poucos reconstruda. Atravs da janela ao lado, as primeiras trevas da noite caiem sobre o telhado da casa conjugada, enegrecendo as telhas avermelhadas e desbotadas pelo tempo. J ento o rdio no mais toca. E um veculo cruza a praa em velocidade. Ser que o Ernesto est cochilando, precisar de algo? Devagar se ergue e em passos lentos encaminha-se varanda. Cruzando o quarto, o corredor e sala seguinte, para ento adentrar no terrao. Os cabelos alvos, ondulados. O nariz adunco. Os lbios finos cerrados. Os vincos acentuados da testa larga. A pele mais plida. A respirao cansada. A imagem da resignao... Sensibilizada ergue a mo e com a ponta dos dedos enxuga as lgrimas. - Pobre do meu velho. A fica parada porta que se comunica com a varanda. Sem ao, entregue ao que sente. Lentamente a cadeira embala o corpo do idoso. Na praa, embaixo, os globos dos postes que a contornam se acendem e os veculos passam de faris acesos. E, de repente, tudo silencia, para acolher a noite, que tudo envolve. 2 Ana Paula dirige, chegando. O terracinho. O pai ali naquela sua cadeira preferida. A sua me ao lado. Seus velhos queridos pais! Ah, o que a vida: saber que numa hora, um dia, se encontrar tambm assim. Mas quando essa hora chegar, sua filha j estar uma moa e, quem sabe? Tambm encontrar-se- grvida, espera do primeiro filho... Os caminhos da vida. As surpresas. A sucesso em tudo. Em tudo! Ento, como se negar a existncia de uma Fora que tudo comanda? Estaciona. Buzina. Anunciando-se. Reconhecendo-lhe o carro, D. Marieta se achega ao parapeito da varanda e sorrindo, acena-lhe com a mo, saudando-a, enquanto Seu Ernesto desperta e se levantando tambm se debrua sobre o peitoril. Ana Paula salta e bate a porta do carro, fechando-a. Os pais esperam-na. E os passos ligeiros sobem os degraus do oito, para serem acolhidos pelo casal. - Era pra eu ter chegado mais cedo, mas o trnsito, como sempre, est horrvel! - Sei filha, entendemos. - Pois , pai. Sorrindo ela se achega: - Que bom saber que vocs esto vivos! Com disfarce, mais uma vez a mo se ergue e os dedos nervosos enxugam a vista embaada de D. Marieta. Sim, a vida tem sentido. Quem pode dimensionar o valor de instantes como esses? Quem... - Me! Os braos longos ento envolvem a anci, no agasalho do aconchego. Escondendo-se, Seu Ernesto foge o rosto de lado. Sensibilizado. Tudo entendendo. Essa menina... About the Author:
Paulo Valena autor de livros de contos e romances, com premiaes nacionais. verbete em dicionrios biobibliogrficos de escritores contemporneos. Pertence a vrias instituies literrias. Est presente em diversos sites, na internet. Vive em Recife/PE.
How to Heal Temporary Shoulder Nerve Pain Where Can I Locate Criminal Records At No Cost To View Someones Criminal Past Life is not a bed of roses Seis Ventajas De Los Ecológicos Frente A Otro Tipo De Regalos Full Version Of RegCure For Free ? - Useful Information ! Visit India Tour & Travel - Tourism And Industrial Development Company Twist On Tradition: Celebrating The Blues Literary Translation and Different View Points or Theories How to import mpg (mpeg-1, 2, 3, 4) file into FCP(Final Cut Pro)? Pass4side 000-704 Questions and Answers The Outclassed Tickets At Low Prices For You The Last Parties Of Being Single It is all about cheap air tickets