subject: Desafios Para Um Ensino De Qualidade [print this page] Author: Carlos Henrique Arajo Author: Carlos Henrique Arajo
#Carlos Henrique Arajo O que temos no Brasil, de forma generalizada, um ensino precrio e muitas vezes prejudicial aos estudantes. preciso assumir isto de forma muito clara para que tenhamos, pelo menos, alguma chance de mudar a situao. A poltica de avestruz assumida por quase todos os dirigentes em educao apenas perpetua a falta de qualidade. Deve-se ter em mente os obstculos presentes em educao e ensino neste Pas. So problemas e distores de ordem poltica, institucional, econmica e tcnica. Os desafios envolvem todas as instncias governamentais e o parlamento: pactuar um financiamento robusto que leve em conta a capacidade de investimento dos entes federados; aumentar o financiamento da educao bsica e tentar equilibrar as desigualdades; investir cedo para investir melhor, enfatizando o fortalecimento das famlias com crianas pequenas, na primeira infncia; melhorar a formao dos professores e instituir cobrana de resultados aos docentes; instituir uma lei de responsabilidade educacional, como j sugeriram diversos estudiosos do assunto, como o economista Gustavo Ioschpe, alm de diversificar e flexibilizar o ensino mdio com muita profissionalizao e distribuio de oportunidades. Precisamos de dirigentes que tenham como meta o alcance da qualidade do ensino sem subterfgios. Os desafios tcnicos so os de obter um fluxo escolar corrigido no ensino fundamental, boas condies de infraestrutura (cerca de 50% das escolas pblicas brasileiras no possuem bibliotecas), foco da gesto na produo de bons resultados de aprendizagem e resgatar o papel do professor, alm de criar as condies para que as escolas retomem a autoridade que lhes foi tirada pela degradao das condies de relacionamento e da indisciplina em sala de aula. Sem enfrentar esse mar de problemas, patinaremos nesta situao de precariedade e balbrdia que caracteriza o nosso sistema educacional. O Programa de Avaliao Internacional de Estudantes (Pisa), em 2006, promovido pela OCDE, no deixa margem de dvidas sobre o estado em que nos encontramos, em coma profundo! Em um ranking com 57 pases, o Brasil ficou em 49, 52 e 54 lugares, em leitura, cincias e matemtica, respectivamente. A Coria do Sul, neste teste, obteve 542 pontos como mdia de desempenho geral e 72% de seus estudantes de 15 a 19 anos esto acima do nvel elementar de desempenho. A Finlndia teve um desempenho levemente melhor do que a Coria, com 544 pontos de mdia geral e 75% dos estudantes com desempenho acima do bsico. Mais de 60% dos estudantes Irlandeses esto acima do nvel bsico, o desempenho mdio na Irlanda alcanou 503 pontos. J os estudantes brasileiros obtiveram 380 pontos na mdia geral, ou seja, 162 pontos a menos do que a mdia Coreana, 164 pontos menores do que a mdia Finlandesa e 123 pontos distantes da mdia auferida na Irlanda. Pasmem! 54% de nossos estudantes com mais de 15 anos esto abaixo ou no nvel elementar de desempenho, em leitura, em matemtica e em cincias, segundo a OCDE. Em cincias, nosso desempenho um dos piores do planeta, estamos frente apenas da Colmbia, da Tunsia, do Azerbaijo, Qatar e Kyrgyzstan. Na realidade, o Pas preferiu ao longo de sua histria instituir um amplo assistencialismo, viciando as pessoas nos benefcios fceis e temporrios da distribuio de recursos e da tutela do Estado Nacional. Pouco foi feito visando autonomia e o esprito empreendedor dos brasileiros. H quase nenhum incentivo para o desenvolvimento dos talentos e das inteligncias que poderiam marcar um futuro diferente para este pas continental. Marcha livre a doutrinao em sala de aula, querem espritos crticos e revolucionrios, mas no se preocupam em formar bons tcnicos, leitores e cientistas. No geral, substitumos o rigor por uma relao desrespeitosa nas escolas e reduzimos mestres e docentes a condio de grevistas irresponsveis e arrogantes, descomprometidos com o ensino. O que se operou no Pas foi uma verdadeira inverso de valores. A educao passou a ser um direito de todos e dever de ningum, certamente, levar anos ou mesmo dcadas para se reverter o pssimo ensino nacional e o ataque coletivo aos valores que produzem um bom ensino e uma boa sociedade. About the Author:
mestre em Sociologia, Consultor em Educao e ex-diretor do Inep-MEC. E-mail chfach@gmail.com