subject: TEXTOS NARRATIVOS: TEMPOS VERBAIS EM EVIDÊNCIA [print this page] 1- INTRODUO 1- INTRODUO
A produo de textos envolve uma srie de elementos lingsticos e extra-lingsticos, que contribuem para a realizao destes de forma coesa e coerente.
Dentre os tipos de textos existentes, um -nos de particular relevncia, o texto narrativo, onde a atividade verbal constante e os fatos se transformam. A pesquisa a ser desenvolvida visa identificar de que maneira as propriedades estruturais de um texto podem condicionar as contribuies ativas dos verbos.
Faremos uso dos conceitos de coeso e coerncia, abordados por Lcia Bastos em sua dissertao "Coeso e Coerncia em Narrativas Escolares". A obra ser um suporte para desenvolvermos a anlise que enfocar a utilizao de tempos verbais em produes de textos.
O corpus com que trabalhamos constitui-se de 22 textos escritos por alunos do curso de Especializao em Lngua Portuguesa, estudantes da Universidade Estadual do Maranho, do Centro de Estudos Superiores de Bacabal.
As narrativas favorecem a anlise aqui proposta por constiturem seqncias cronolgicas de acontecimentos e por permitirem ao discurso, a espontaneidade.
Identificaremos os tempos verbais evidentes nos textos narrativos, analisando a relao existente entre a estrutura desses textos e o uso de determinados verbos. Sero enfatizados mais especificamente os tempos presente, pretrito perfeito e pretrito imperfeito, por serem os mais detectados em narrativas, como ser comprovado no decorrer desse trabalho. E num todo, observaremos a coeso e a coerncia obtidas atravs dessa relao, pois o texto se constri a partir da combinao de todos os elementos.
Segundo Costa Val(1999,36) o texto uma unidade de sentidos, na qual os elementos significam um em relao aos outros e em relao ao todo, ou seja, as ocorrncias de um texto no devem ser analisadas per si, mas o texto deve ser percebido e interpretado integralmente, cada elemento sendo avaliado em funo do todo.
Assim, o estudo de determinados tempos verbais dentro da estrutura textual narrativa torna-se relevante. Em que esses verbos, como elementos do texto, contribuem com os demais para a coerncia do discurso.
2- FUNDAMENTAO TERICA
A Lingstica Textual vem conquistando um grande espao na rea educacional. uma cincia que elege o texto como objeto de estudo, considerando todos os elementos envolvidos em sua produo. Como enfatiza Kock(2003) "a preocupao maior da Lingstica Textual o prprio texto, envolvendo todas as aes lingsticas, cognitivas e sociais envolvidas em sua organizao, produo, compreenso e funcionamento no seio social ". Sendo que essas relaes s so importantes para explicar o funcionamento do texto.
Os estudiosos que trabalham nessa rea desenvolvem teorias a respeito da produo de texto e proporcionam aos professores, prticas de desenvolvimento da competncia textual dos alunos, tendo em vista que este, um dos maiores problemas da educao.
As aulas de Lngua Portuguesa no davam tanta importncia ao texto, at ento. Os estudos de Lingstica Textual vm provocando essa mudana. Os professores valorizam mais a produo de texto e a leitura em detrimento das aulas de gramtica normativa. Eles podem ter em mos os subsdios tericos e prticos para desenvolver em seus alunos a habilidade de produzir bons textos, fazendo-os interagir com a sociedade volta; textos coesos e coerentes tanto na escrita quanto na fala dos estudantes em geral.
Coeso e coerncia so os principais fatores que tornam o texto aceito pela comunidade falante/ouvinte. Lcia Bastos(2001,15) baseada nos conceitos de Halliday, Charolles e Widdowson, coloca coeso e coerncia como "dois fenmenos distintos e responsveis juntos, pela transmisso do significado do discurso". Segundo ela, a coeso est relacionada com a organizao textual, ou seja, como as frases se organizam em seqncia expressando posies; enquanto a coerncia diz respeito inscrio das proposies no mundo, sua verossimilhana e seu valor ilocucional.
Se o aluno tiver a competncia de desenvolver seus pontos de vista, suas idias em uma estrutura textual bem organizada, ele estar apto para escrever ou falar para qualquer pblico, bem como para compreender os mais diversos textos com os quais tenha contato.
A realizao do fator coerncia depende tanto do emissor quanto do receptor. Como afirma Costa Val (1999,6) "um discurso aceito como coerente quando apresenta uma configurao conceitual compatvel com o conhecimento de mundo do recebedor". Assim, se um aluno escreve um texto que parea incoerente, o professor dever levar em considerao uma srie de fatores para chegar a um veredicto. E o professor tornar-se- um orientador para a organizao textual de seu aluno.
Para Costa Val(1997,7) "a coerncia e a coeso tem em comum a caracterstica de promover a inter-relao semntica entre os elementos do discurso, promovendo a conectividade textual. Dessa forma, a coerncia diz respeito ao nexo entre os conceitos, e a coeso, a expresso de nexo no plano lingstico".
Nos textos com os quais trabalharemos sero detectados os tempos verbais mais utilizados na narrao. Para fazer essa anlise usaremos dois momentos constituintes desses textos, que ajudam a organizar a estrutura textual, a orientao e o resumo.
Segundo a teoria de Labov e Waletzky, orientao e resumo so algumas das funes que sustentam a estrutura narrativa.( Bastos 2001,24). A orientao posiciona o leitor em relao pessoa, lugar, tempo, comportamento do escritor, ou seja, uma funo referencial. E o resumo assume a funo de despertar o interesse do leitor, quando no incio do texto so colocadas algumas informaes que resumem a histria que vem frente.
Assim, os tempos verbais sero observados em textos de orientao e resumo dos textos narrativos, sendo estes coerentes e com uma alta densidade de informatividade.
3- MATERIAL E MTODOS DA PESQUISA
O material utilizado para a pesquisa constitui-se de 09 textos escritos por alunos do curso de Especializao em Lngua Portuguesa, estudantes do Centro de Estudos Superiores de Bacabal.
Os textos foram obtidos de maneira espontnea, nas aulas da disciplina Lingstica Textual, cuja temtica trata de lembranas da infncia. Foram produzidos 22 textos, dos quais selecionou-se apenas 07 para estudo, que obedecer seguinte numerao: textos 01,02,03,04,05,06,07,08,09.
Procuraremos detectar os verbos em seus tempos, dando maior nfase para os tempos presente, pretritos perfeito e imperfeito. A anlise ser feita atravs das conceituaes, explicitaes, dos tempos verbais e observao nos textos que compem o corpus desse trabalho.
4- ANALISANDO OS TEMPOS VERBAIS EM TEXTOS NARRATIVOS
A coerncia manifesta-se na coeso textual. A estrutura do texto narrativo mantm relao com determinados tempos verbais, favorecendo principalmente, o presente e os pretritos perfeito e imperfeito.
Veremos porque esses tempos verbais so preferidos na estrutura dos textos narrativos e contribuem para a progresso do texto, para que o mesmo se constitua num encadeamento linear de acontecimentos e no perca o seu sentido.
Os exemplos que se seguem, retirados dos textos narrativos anexados ao corpus constituem "orientaes". Identificaremos uma a uma as formas verbais mais freqentes:
TEXTO 01
"Recordo-me muito bem que, quando ainda era pequeno, percorria uma grande distncia para chegar at escola que ficava a uns quatro quilmetros do interior onde morava."
TEXTO 02
"...mudei-me para outro povoado, de propriedade de meu av, chamado de Boca Seca, l vivi a maior parte de minha infncia."
TEXTO 03
"Neste dia foi muito importante, pois encontrei muitos amigos e brinquei com os palhaos."
TEXTO 04
"Quando criana eu morava num povoado chamado So Paulo Apstolo, municpio de Bacabal. Lembro que todas as noites a crianada se reunia para brincar de diversas brincadeiras."
TEXTO 05
"Quando nos reunamos, eu e a turma da rua onde morava, tnhamos por preferncia as brincadeiras que nos faziam correr bastante, como "pegador", "bandeirinha" etc. De bicicleta, s andava voando! At hoje continuo apreciando a velocidade!"
TEXTO 06
"Recordando alguma coisa do meu passado de criana, lembro-me, que eu e meus colegas, nas horas de folga, depois das aulas, gostvamos de jogar futebol, e outras brincadeiras de criana."
TEXTO 09
"So muitas lembranas alegres e tristes que guardo da poca da minha infncia. Eu brincava bastante, freqentava as casas dos vizinhos."
No texto 01, o tempo verbal mais empregado o pretrito imperfeito, seguido de uma forma no presente e uma no infinitivo. No texto 02, temos o pretrito perfeito e uma forma no particpio. O texto 03 caracterizado pelo pretrito perfeito.
Identificamos no texto 04 que predomina os verbos no imperfeito, seguido do presente e uma forma no infinitivo. Em 05, o imperfeito mais empregado, aparecendo tambm o tempo presente, o infinitivo e algumas formas no gerndio.
No texto 06 temos o imperfeito, o presente e o gerndio. E ainda, o texto 09 que emprega com mais freqncia o imperfeito, seguido do presente.
Temos agora, alguns exemplos de "resumo" nos textos narrativos:
TEXTO 07
"Sempre que necessito falar sobre a minha infncia sofro um impacto muito grande, fogem as palavras para darem lugar s lembranas que so, em sua maioria, muito tristes."
TEXTO 08
"A infncia uma fase que todos tem algo para contar seja engraado ou no. um perodo que aproveitamos para brincar muito..."
Observa-se que no texto 07, o tempo verbal que perdura em quase todo o trecho o presente, havendo ainda formas no infinitivo impessoal e infinitivo pessoal respectivamente. Da mesma forma, no texto 08, predomina o presente e o infinitivo impessoal.
Observamos atravs da anlise dos dados que se seguiram, que no momento "orientao", prevalecem o pretrito imperfeito seguido de pretrito perfeito e presente. Enquanto no "resumo", o tempo verbal que predomina nos textos narrativos o presente.
Os textos mostram que os escritores utilizam determinados tempos verbais no incio de suas narrativas, no constituindo isso, uma regra geral. Porm, percebe-se que esses usos coesivos colaboram para que o texto torne-se coerente, de acordo com a idia que cada um procura passar.
5- CONCLUSO
A anlise feita mostra que ao escrever textos narrativos, os escritores optam por determinados tempos verbais, fazendo assim, com que a coerncia torne-se evidente, atravs da manifestao coesiva. Esses tempos verbais contribuem para a elaborao expressiva das idias no texto, pois, como observamos, esses so os tempos verbais mais adequados para a produo de um texto narrativo, pois colaboram no ato de narrar.
Contudo, no podemos caracterizar a manifestao dos tempos verbais detectados como uma regra geral para todos os textos narrativos. Mas percebemos que so os mais teis para a coerncia narrativa desenvolver-se.
Enfatizamos ainda, que a anlise feita um trabalho de observao, baseada em um corpus limitado. um trabalho que deve ser feito constantemente pelos professores de Lngua Portuguesa nas redaes de seus alunos. Todos os elementos lingsticos e extralingsticos devem ser levados em considerao no momento de corrigir. E a preferncia de um ou outro tempo verbal e demais elementos constituintes de um texto feita no intuito de manter a coerncia textual. Portanto, reafirmamos que coerncia e coeso andam juntas, uma est em funo da outra em qualquer realizao discursiva.
6- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BASTOS, Lcia Kopschitz. Coeso e Coerncia em Narrativas Escolares. So Paulo: Martins Fontes, 2001.
COSTA VAL, Maria da Graa. Redao e Textualidade. 2 ed. So Paulo: Martins Fontes, 2006.
MAINGUENEAU, Dominique. Anlise de Textos de Comunicao. 3 ed. So Paulo: Cortez, 2004.
ReVEL, Revista Virtual de Estudos de Linguagem. Ao 1 nmero 1 agosto de 2003. ISSN 1678-8931.