subject: GUERRA DOS FARROUPILHAS: A ECONOMIA REGIONAL GAÚCHA E O LIBERALISMO ECONÔMICO [print this page] O Rio Grande do Sul surgia e se desenvolvia no instante em que o mundo rompia as grandes barreiras de ordem feudal e iniciava a Idade Contempornea. Havia, por toda a parte, um florescimento de idias contrrias s que predominavam nos tempos medievais. Surgiam novas doutrinas e idias que, em cada lugar onde alcanavam, tomavam formas e matizes diferentes, de acordo com exigncias, interesses e relacionamentos locais, nacionais e internacionais. Da que se pode perguntar, considerando-se o Rio Grande do Sul, no tempo da "Guerra dos Farroupilhas", qual a relao que motivava essas exigncias, relacionamentos e interesses locais.
Ganhava terreno a doutrina liberal iluminista, onde as leis e as Constituies deveriam ser respeitadas por todos, inclusive pelas classes dirigentes, para que a liberdade, a igualdade e a fraternidade fossem garantidas. Dentro dessa idia tambm surgia o ideal de federao, ou seja, a descentralizao do poder que garantiria a autonomia das provncias, de eleies dos seus governantes e de que impostos recolhidos ficassem no local do recolhimento. Contudo, no Brasil, mesmo que a Independncia tenha recebido impulsos do liberalismo, continuou o Estado sendo centralizador e totalitrio.
O Rio Grande do Sul, por sua vez, promovia por alguns setores, como a imprensa, dentre outros, o liberalismo republicano e federalista. H autores que afirmam ter havido influncia de idias republicanas oriundas dos pases vizinhos do Prata. Alguns chefes liberais gachos, como Bento Gonalves, por isso, foram acusados de separatistas.
Por um lado, as guerras e o sistema militar do Imprio desagradavam pelo seu imposto despotismo e oneroso peso sobre a Provncia. Por outro lado, o principal produto da Provncia, o charque, tornava-se difcil de concorrer com o produzido no Prata, por dois motivos: pesados impostos que o Imprio taxava e o sistema produtivo escravista que tornava menos eficaz a produo.
Ainda no Sul, o clero, a maonaria e as sociedades literrias apoiavam as idias liberais, republicanas e federativas. O federalismo era necessrio e vantajoso para as classes dominantes, pois significava a liberdade econmica em relao ao Imprio.
Tudo isso ia, aos poucos, somando-se e impregnando a Provncia de idias federativas como forma de escapar do estrangulamento poltico, da condio de periferia e do bloqueio econmico exercido pelas elites do centro do Imprio.
Observa-se, assim, que a "Guerra" ou "Revolta" dos Farroupilhas foi uma luta pelos princpios liberais e contra o centralismo e o autoritarismo do governo central, ou seja, uma luta entre um grupo oligrquico "gacho" contra a administrao imperial. Contradies entre o centro e a periferia fizeram, ento, eclodir a "Guerra" dos Farroupilhas. Na verdade, um confronto entre elites do Sul contra as elites do centro imperial. Estas, beneficirias da Independncia, buscavam supremacia e domnio sobre aquelas.
Desse modo, podemos dizer que exigncias de mercados, de ascenso da burguesia ou elite local, de poder econmico e de liberdade comercial, inspirados e adaptados do capitalismo e liberalismo econmico, que se alastrava pelo mundo, levou as elites locais a atividades de descontentamento em relao ao Imprio.
Fica claro, portanto, que h uma relao onde praticamente todas as exigncias se interrelacionam, e essa relao est no jogo das questes nacionais e internacionais da poca, ou seja, do liberalismo econmico e poltico que estava fazendo ruir estruturas antigas, tais como o monoplio, o absolutismo e o autoritarismo centralizador. E o "Movimento" Farroupilha, por sua vez, fazia parte dessas exigncias locais inseridas nesse jogo das questes e exigncias nacionais e internacionais da poca.
O constitucionalismo estava tomando fora. Entretanto, na formao do Estado Nacional brasileiro, a centralizao e o autoritarismo, contrrios doutrina liberal, ainda persistiam, desrespeitando o regional.
Assim, a Provncia "gacha", tocada pelo liberalismo, agitava-se semelhante Europa, Amrica e ao Brasil. Cada uma sua maneira, tica e interesses especficos e particulares.
Prof. Hermes Edgar Machado Junior
Referncias bibliogrficas:
LOPES, Luiz Roberto. Revoluo Farroupilha: a reviso dos mitos gachos. Porto Alegre: Movimento, 1992.
FLORES, Moacyr. Histria do Rio Grande do Sul. 4 ed. Porto Alegre: Nova Dimenso, 1993.
______________ . A Revoluo Farroupilha. 2 ed. Porto Alegre: UFRGS, 1994. (Sntese Rio-Grandense-2).
______________ . Modelo Poltico dos Farrapos. 3 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. (Srie Documenta-1).
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Histria do Rio Grande do Sul. 2 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. (Srie Reviso-1)
_______________________ . A Revoluo Farroupilha. 3 ed. So Paulo: Brasiliense, 1990. (Coleo Tudo Histria-101).
LAZZAROTTO, Danilo. Histria do Rio Grande do Sul. 6 ed. Iju: UNIJUI, 1998.
FAGUNDES, Antnio Augusto. Cartilha da Histria do Rio Grande do Sul. 2 ed. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1994.
BARBOSA, Fidlis Dalcin. Histria do Rio Grande do Sul. 4 ed. Porto Alegre: EST, 1995.
SANTOS, Jol Abilio Pinto dos. O Neoliberalismo, o Federalismo e a Atualidade da Insurgncia Federalista dos Farrapos. In: QUEVEDO, Jlio (org.). Rio Grande do Sul: quatro sculos de histria. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1999.
ZAGO, Simone Maria. A Repblica Rio-Grandense e o Projeto Constitucional Farroupilha de 1843. In: QUEVEDO, Jlio (org.). Rio Grande do Sul: quatro sculos de histria. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1999.
FORTES, Amyr Borges. Compndio de Histria do Rio Grande do Sul. 4 ed. Porto Alegre: Sulina, 1960.
TARGA, Luiz Roberto Pecoits. O Rio Grande do Sul: fronteira entre duas formaes histricas. In: TARGA, Luiz Roberto Pecoits (org.). Gachos & Paulistas dez escritos de histria regional comparada. Porto Alegre: FEE, 1997.
GUERRA DOS FARROUPILHAS: A ECONOMIA REGIONAL GACHA E O LIBERALISMO ECONMICO
Prof. HERMES EDGAR MACHADO JUNIOR (ISSARRAR BEN KANAAN) Temas relacionados espiritualidade universalista e ecltica, meditao, esperanto, hebraico, psicologia, filosofia, histria, arqueologia, naturismo e informtica (principalmente linux).