subject: Uma reflexão sobre o prejuízo econômico em face do uso inadequado do lixo [print this page] Tpica da sociedade moderna a forte cultura consumista causa o problema da gerao, em excesso, de lixo. Aliado a isso o inadequado manejo e o destino dos resduos slidos envolvem srias questes ambientais, econmicas e sociais, podendo ocasionar graves conseqncias num futuro prximo. Diante desta problemtica, a busca por alternativas que visem a minimizar a degradao da natureza e aumentar o bem estar da populao algo indispensvel e urgente.
O processo produtivo industrial pode ilustrar bem a falta de um manejo adequado do lixo. Pois, segundo JOHN (2000), no modelo atual de produo, os resduos so sempre gerados na produo de bens de consumo, que ao final de sua vida til se convertem em resduos. Desta forma, a massa de resduos gerados superior a massa de bens de consumo em longo prazo para qualquer economia mundial.
Para uma viso quantificadora da problemtica do lixo, tm-se os nmeros a seguir, que ajudam a ter uma noo da dimenso do uso no adequado do lixo: No mundo se descarta 1 milho de sacos plsticos por minuto; cada brasileiro descarta, em mdia, mais de 1 quilo de lixo por dia e se considerarmos somente o lixo que a cidade de So Paulo deposita nos aterros em uma semana o suficiente para encher o Estdio do Maracan no Rio de Janeiro (o maior estdio de futebol do mundo). O Aterro Bandeirantes (maior aterro em rea da Amrica Latina) recebe 5 mil toneladas de lixo por dia e isso s a metade do lixo que a cidade de So Paulo produz. O maior problema a falta de compromisso em tirar o mximo proveito do que o lixo pode trazer de benfico para as pessoas.
O lixo, ou resduos slidos, deve ser coletado, transportado e disposto de forma adequada pelas prefeituras municipais, tendo, como prioridade, no causar danos ao meio ambiente e populao, ou seja, as prefeituras devem coletar o lixo na porta de sua casa e deposit-lo de forma correta em aterros controlados e no em lixes, j que esses degradam o meio ambiente. O custo para esse processo de coleta at a disposio adequada do lixo alto, basta pensarmos quanto custaria para manter caminhes, funcionrios e um aterro em uso ininterrupto, visto que estamos gerando lixo o ano todo. Entretanto, a sociedade quem paga. H pases que j esto pagando muito caro por isso. O jornalista Washington Novaes em uma de suas entrevistas citou exemplo do Canad, onde a cidade de Toronto j leva seu lixo a 800 km de distncia e tiveram que criar uma linha frrea para transport-lo.
Um ponto que no deve ser esquecido e que tem ligao direta com o lixo a coleta seletiva. A mesma traz inmeras vantagens para toda a sociedade, no entanto, para que haja sucesso, deve haver investimentos no sentido de sensibilizar a populao na separao de materiais que podem ser reaproveitados.
Da coleta seletiva se pode extrair pontos positivos do lixo, esta se apresenta como um forte potencial de rentabilidade econmica. A partir do momento que ela viabiliza a recuperao da qualidade de materiais os quais podem ser reciclados e que estariam indo direto para o lixo. Tambm harmoniza e estimula a cidadania. Permite um aumento na escala e amplia gradativamente a quantidade de materiais destinados reciclagem, reduzindo o volume do lixo disposto em aterros e, conseqentemente, aumentando, ento, a vida til destes materiais. A Revista da Indstria, publicada pela FIESP no ms de julho de 2005, traz alguns nmeros interessantes sobre a reciclagem, afirmando que o aproveitamento de resduos j alto em alguns setores como, 97% em alumnio, 77,3% em papelo ondulado e 40% em PET. Porm, atualmente, o que mais sensibiliza a populao para a separao do lixo a gerao de renda para catadores, sucateiros e outros que esto envolvidos com a rea da reciclagem.
Outro ponto que liga o lixo economia diz respeito gerao de energia. Estudos mostram que a matria orgnica quando se decompe, produz o gs metano (CH4) que um gs poderosssimo de efeito estufa, pois 21 vezes mais quente que o CO2. Esse gs metano "solto" na natureza pode causar mudanas climticas. Infelizmente o Brasil um grande produtor de gs metano. Das 180 mil toneladas produzidas por dia, 31% abandonado a cu aberto. Entretanto, o Ministrio do Meio Ambiente fez uma pesquisa analisando o lixo e os aterros de 91 cidades brasileiras em que constatou que o potencial energtico a partir do gs metano produzido por esses 91 aterros o suficiente para atender a 6,5 milhes de pessoas.
J que existem mtodos de tratamento antes do envio ao destino final, tais como: a incinerao, a compostagem e a reciclagem, que so indicados com o objetivo de reduzir o volume dos resduos slidos a serem dispostos nos aterros sanitrios, porque no utiliz-los?
Segundo as pesquisas de MELDONIAN (1998) e CALDERONI (1998), a adoo de mtodos de tratamento como a coleta seletiva e reciclagem apresentam vantagens scio-econmicas e ambientais, dentre as quais destacam o reaproveitamento e reutilizao dos resduos como fonte de matrias-primas, economia de energia, maximizao na utilizao das reas de disposio final, reduo da poluio sade pblica e ao meio ambiente, e por fim, a gerao de renda e emprego.
A reutilizao dos diferentes resduos vem sendo abordada constantemente por pesquisadores como uma das principais metas para se alcanar o desenvolvimento sustentvel, reduzindo assim, a produo dos resduos gerados pelas inmeras atividades humanas.
A reciclagem dos resduos, com o aperfeioamento de projetos que visam poupar impactos ao meio ambiente, e a substituio de materiais tradicionais por outros mais eficientes podem vir a criar produtos melhores (a nvel comercial) e, com maior durabilidade.
As formas adequadas de aproveitamento de resduos e de subprodutos industriais, como matria secundria, devem abranger um completo conhecimento do processo de gerao, caracterizao completa e identificao do potencial de aproveitamento dos resduos, definindo as caractersticas limitantes do uso e da aplicao.
Em se tratando do lixo brasileiro ele tido como um dos mais ricos do mundo. Mas, para Heliana Katia Campos, secretria-executiva do Frum Nacional Lixo e Cidadania, da Unicef no est sendo dada a devida importncia s questes relativas ao saneamento ambiental, em especial coleta e destinao adequada dos resduos. Ela alerta para o fato de que o descarte aleatrio dos resduos em nascentes, crregos, margens de rios e estradas, alm de provocar problemas ambientais graves e poluir as guas, que muitas vezes so captadas para consumo, atrai para estes locais um exrcito de desempregados e famintos, que sobrevivem custa da cata de resduos para a sua alimentao e para comercializao. Katia ressalta ainda que o problema da catao de lixo por seres humanos "regra geral", de norte a sul do pas, tanto em cidades de pequeno porte como nas grandes capitais. " uma situao constrangedora e inaceitvel, fruto da misria, do desemprego e da busca desesperada pela sobrevivncia".
Segundo os dados de um estudo feito pelo Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), so produzidas no Brasil aproximadamente 240 mil toneladas diariamente, e o fator agravante que 76% desse lixo no passam por qualquer gerenciamento, sendo despejados nos aterros a cu aberto e, na maioria das vezes, afetando o equilbrio do ecossistema.
Outro dado interessante que apenas 2,5% das cidades brasileiras separam parte de seu lixo urbano. O economista Sebetai Calderoni, em seu livro "Os bilhes perdidos no lixo", afirma que o Brasil perde anualmente R$ 5,8 bilhes porque deixa de reciclar o seu lixo urbano, deixando claro que nosso lixo vale muito e pode ser uma alternativa de renda para muitas pessoas que se encontram desempregadas e at mesmo excludas do meio social.
Diante de todos os meios para a reutilizao do lixo a reciclagem de lixo tem se revelado um bom negcio. Pases desenvolvidos, como a Austrlia e o Japo, j reciclam praticamente 100% do lixo que produzem. Os Estados Unidos so o pas que produz mais lixo no mundo, e parte desse lixo reciclado, empregando milhares de pessoas nesse processo. Outro aspecto que temos que levar em conta que a reciclagem, alm de propiciar trabalho e renda a muitas pessoas, faz muito bem ao meio ambiente, deixando-o mais limpo e evitando o desperdcio e a extrao de materiais.
Um exemplo interessante a ser dado o caso do alumnio. A cada tonelada de alumnio reciclada, evitada a retirada de 5 toneladas de minrio de bauxita, sem dizer que o processo de transformao do minrio em alumnio consome muita energia. Para se ter uma idia do que isso significa para a natureza, o consumo de latas de alumnio no Brasil neste ano dever ser de 9,5 bilhes de unidades, e no mundo, de 220 bilhes. Cada quilo de alumnio produz apenas 67 latas. Imagine se no houvesse a reciclagem desse material. Em pouco tempo, no se teria mais alumnio no mundo. J com relao embalagem longa vida (do leite, do suco e de outros produtos), cada tonelada reciclada gera cerca de 650 quilos de papel kraft, o que evitar o corte de 20 rvores cultivadas em reflorestamento comercial.
A reciclagem no Brasil fortemente sustentada pelos garimpeiros do lixo (catao informal). Os programas criados pelo poder pbico, muitas vezes em parecia com os catadores, tambm tm se difundido. Entre os principais mritos da reciclagem esto o de reduzir o volume de lixo de difcil degradao, o de contribuir para a economia de recursos naturais, ode prolongar a vida til dos aterros sanitrios, o de diminuir a poluio do solo, da gua e do ar e o de evitar o desperdcio, contribuindo para a preservao do meio ambiente. Trata-se de um processo de transformao de materiais para reaproveitamento na indstria e na agricultura.
So basicamente dois os modelos de programas de reciclagem implantados em municpios brasileiros: coleta seletiva de lixo e usinas de reciclagem. H, felizmente, exemplos de cidades em que a reciclagem j atingiu um estgio avanado, com resultados importantes. Curitiba (PR), com o programa "Lixo que no lixo", implantado h 10 anos, representa com louvor essas experincias bem sucedidas. Mas, de acordo com o levantamento da Unicef sobre a destinao final do lixo no Brasil, constata-se uma precria situao na maioria dos municpios: 88% deles no possuem conselho de meio ambiente, tido como principal instrumento de controle dos problemas ambientais. Apenas 34% das cidades tm um rgo ambiental especifico, em 25% so outras instncias que respondem pela rea ambiental e em 41% no h qualquer rgo responsvel pela gesto ambiental.
Agora, indo para o lado prtico, os pontos essenciais so o incentivo do poder pblico e a criao de cooperativas que possam acomodar as pessoas que trabalham na coleta de materiais reciclveis, dando a elas melhores condies de trabalho. O investimento em campanhas de conscientizao, alertando a populao para a importncia da coleta seletiva e da reciclagem do lixo, lembrando que o ele poder se tornar renda para outras pessoas e a promoo de educao ambiental, focalizando a teoria dos trs "r" (reduzir, reutilizar e reciclar) tambm so importantes.
O programa da Unicef preconiza a necessidade de uma interveno social voltada ao resgate da cidadania dos trabalhadores que vivem em condies de absoluta pobreza, "sobrevivendo das sobras e dos desperdcios dos mais afortunados". Como alternativa catao nos lixes, o Lixo e Cidadania procura incentivar a coleta seletiva, com a participao das famlias dos catadores, propiciando a gerao de postos de trabalho e renda para as mesmas.
To logo, informar e orientar so requisitos bsicos para que haja sustentabilidade. Sendo assim, no h como esquecer o papel da escola e do educador. A compreenso dos aspectos cientficos, tecnolgicos e sociais relacionados ao lixo de extrema importncia, pois possibilita ao cidado a reflexo crtica sobre seu papel como co-responsvel pela gerao e soluo de problemas ambientais (MACHADO, 2001).
Para Cunha e Caixeta Filho (2002), muitas vezes, o lixo tratado com a mesma indiferena da poca das cavernas, quando no era verdadeiramente um problema, seja pela menor quantidade gerada, seja pela maior facilidade da natureza em recicl-lo. Entretanto, em tempos mais recentes, a quantidade de lixo gerada no mundo tem sido grande e seu mau gerenciamento, alm de provocar gastos financeiros significativos, pode provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a sade e o bem-estar da populao. Por esse motivo, o interesse em estudar resduos slidos tem se mostrado crescente.
O poder pblico deve propiciar as condies necessrias ampliao do espao para o debate e para a participao social na defesa e na execuo das polticas ambientais, notadamente em relao ao lixo, uma vez que todos podem e devem adotar o princpio dos 3R reduzir, reutilizar e reciclar.
Ento ver-se que o lixo tem uma forte ligao com a rea econmica, mas ainda tem muito para ser feito por parte do poder pblico que, na maioria das cidades, no estimula a coleta seletiva, a reciclagem etc. H pontos na legislao tributria que devem ser mudados para estimular a criao de novos negcios e novas empresas na rea de reciclagem de produtos. Precisa-se estimular a mudana nos percentuais de cobrana do ICMS para empresas dessa rea, sem contar com as leis de atrao de novos empreendimentos empresariais, especialmente das empresas que atuam junto reciclagem. Finalmente, alm dos ganhos econmicos que foram destacados neste artigo e que no esto sendo aproveitados como deveriam ser, tem-se os ganhos ambientais que so imensurveis.
CALDERONI, S. Os bilhes perdidos no lixo. 3 edio. So Paulo: Humanitas Editora, 346 p.1998.
CUNHA, V.; CAIXETA FILHO, J. V. Gerenciamento da coleta de resduos slidos urbanos: estruturao e aplicao de modelo no-linear de programao por metas. Disponvel em . Acesso em: 07 jul.2010
Estatsticas de Reciclagem Lixo. O lixo uma fonte de riquezas. Disponvel em . Acesso em: 07 jul.2010