A Caridade, Os Paulistas E Os Nordestinos
Author: Jackson Fernandes Filgueiras
Author: Jackson Fernandes Filgueiras
(Gugu Liberato e a Filantropia) Domingo, eu estava em casa, sem o que fazer. Liguei a TV. Mas assistir a que programa? Dvida cruel. Nada me interessa tanto na TV que me impea de fazer outra coisa (claro que em outra poca no era bem assim). Mas ficar ocioso, letrgico, coando, estava me dando nos nervos. Ento sintonizei na Record porque o canal que sintoniza melhor na minha casa (depois da Globo - sem comentrios, n?). Assisti a algum noticirio, um pouco desse produzido/ancorado pelo Paulo Henrique Amorim. Comeou a chegar gente e, como sou muito dispersivo, me afastei da TV. Algumas horas depois, me atraiu (pelo ridculo do meu ponto de vista, e pela comoo causada em meus parentes) o programa do Gugu Liberato no quadro De Volta para Minha Terra. Puxa vida, doeu de novo. Sempre di. Sempre vai doer. sempre a mesma coisa a equipe encontra, na cidade de So Paulo, uma famlia nordestina em situao de misria (pelo que eu leio nos blogs de poltica, no deve ser uma tarefa difcil), produz um vdeo contando a histria dessa famlia, narrando os seus dramas, expondo toda sua situao miservel, reduzindo as pessoas a coisas (ou bichos), e depois entram os parceiros (publicidade, o que ), se comprometendo a levar de volta essa famlia para sua terra. Ah! Mas eu simplifiquei o processo!E o fizporque no tenho saco para isso, claro. indagado s pessoas o que vieram (foram) fazer naquela cidade, quais os seus sonhos, o que conseguiram, por que no conseguiram, o que aconteceu para dar errado. E as imagens. Afinal, elas so necessrias. O ambiente insalubre (sim, pois se no estiverem num ambiente insalubre, no faro jus ajuda humanitria). E as pessoas em frangalhos, pois uma imagem conta mais do que mil palavras, ou coisa assim. E o suspense , as pessoas no sabem se recebero a ajuda (pois essa ajuda depende somente da boa vontade do filantropo e do empenho daquela equipe que os achou e pretende salv-los. Mas filantropia isso mesmo, no ? no se pode constranger algum a ser um filantropo; estender a mo depende de cada um, de estar predisposto); ento, tm de pedir, de fazer cara de splica, renunciar ao que restou de dignidade (se restou alguma). E depois vem a caridade. E tome caridade. E mais caridade, at saturar. preciso deixar registrado que a alma caridosa vai transformar a vida dessas pessoas, e elas nunca mais experimentaro o desespero, a carncia, o desconforto, a penria. A alma caridosa leva a famlia de volta para sua terra, no Nordeste e a equipe da TV acompanha a volta dos filhos prdigos; e registra a surpresa, a ansiedade, a expectativa da famlia. Mas s? No, caro expectador. Tem mais. preciso que outra equipe v at ao destino, espicaar osentes queridos (, pois ; so queridos, ao menos na telinha; a telinha precisa que essas pessoas apaream bem na foto) dos que fugiram do flagelo da seca (da desigualdade, da m distribuio de renda, dos privilgios, do mandonismo, do coronelismo oportunista, enfim). Vocs tm um parente assim, assado, com nome tal? Onde est ele? Foi embora daqui? Para onde? Qual a ltima vez que voltou aqui? Qual a ltima vez que voc falou com ele? E, por fim, o desfecho chegou o filho prdigo, que saiu em busca de melhora de vida, e deu com os burros ngua, piorando gravemente sua situao, no tendo condio de voltar para o que tivera antes (alis, ningum volta para o que fora ou tivera - apenas para lembrar a mxima atribuda aos esticos: ningum se banha duas vezes no mesmo rio, pois nem o rio o mesmo, nem tampouco o sujeito). E aqui, tambm lcito invadir, devassar, espicaar, especular, se intrometer, bisbilhotar (se no bisbilhotar no tem "veia artstica"), registrar o encontro, o entusiasmo, a emoo, a exploso dos sentimentos, o alvio, a dor (sim, a dor. Da frustrao, da saudade, da impotncia. No sei de que mais, mas h dor). Terminou? No! Claro que no! A caridade continua. Agora, entra em cena outro filantropo, que generosamente d ao chefe da famlia retornada um kit de sobrevivncia consistente de material para explorar uma prestao de servio, mais um treinamento bsico. E depois, os votos de sucesso, etc, etc. Por que isso me agride, mesmo? Afinal de contas, no foram mais uns cinco nordestinos, pelo menos, roubados ao negrume da misria? Ah, cidado, isso me agride por vrias razes. Contudo, vou citar somenteduas: A primeira pela espetaculizao dos dramas pessoais. No fosse por as cenas de misria renderem um bom material televisivo (e potencial de ganho publicitrio), nenhum canal de TV iria investir em resgatar algum da misria. Ento para mim isso os meus conterrneos so meras coisas (e bichos, como j falei e como deixou bem registrado Graciliano Ramos em sua obra). Afinal de contas, s d ibope notcia ruim, tragdia, desgraa. Nesse contexto, mesmo fazendo caridade ( palavra triste, pesada), h que espetaculizar o ato. Mesmo porque esse o negcio da empresa (claro que poderamos falar de tica, de princpios; mas no sejamos piegas). A segunda, pela imensa carga ideolgica embutida no processo. Nordestino tem de ficar no seu lugar o Nordeste. So Paulo terra de paulistas, gente valorosa. Ento, os nordestinos que ainda pensam que tem lugar em So Paulo pra pau-de-arara, baiano, cabea-chata, que tirem o cavalo da chuva. Est na misria? Ento volte pro seu lugar, verme! Aqui no tem lugar pra vadio no. No tem como voltar? Ento que morra, desinfete. No isso? Eu estou exagerando? Nese caso,aqui vo duas perguntas: - Tem ajuda para os nordestinos que no decidirem voltar para o Nordeste? Ah, tem? Ento por que isso no divulgado nesse programa televisivo? Por que o nome de volta pra minha terra? Por que no tem um programa com um nome tal "uma gota de esperana"? - S h miserveis em So Paulo se forem nordestinos ou seus descendentes? No h misria entre os paulistas do interior? Entre os mineiros, gachos, paranaenses? Ou esses grupos no migram para a Paulicia, como os nordestinos? Se h migrantes oriundos dessas regies, ento o de volta pra minha terra tambm os retorna pra suas origens? Eu nunca vi. (Claro, n? Eu quase no assisto mais a TV (ufa!)) Minha concluso: os nordestinos (pobres) no so bem-vindos em So Paulo. Mas So Paulo se orgulha de ser uma cidade construda (erguida) por imigrantes. E os migrantes (alguns) no tm vez no seu microcosmo. Enfim, isso: imigrante, sim; migrante no. Isso pode ser um problema, pois uma das correntes migratrias mais intensas atualmente a dos bolivianos. Mas fiquemos com os nordestinos. Cidades vitalizadas por afluncia migratria cuidam de integrar esses grupos de (i)migrantes. Isso aconteceu em So Paulo, com os italianos, japoneses, portugueses, espanhis, alemes. Todavia, se reluta em integrar os nordestinos (e os bolivianos mas isso outra histria, teimoso!). Por qu? No vale a pena integrar os nordestinos? Seria porque eles falam cantado, arrastado? Seria porque eles no falam chiando? E falam x onde os sulistas falam s? Ou problema de cor? De aparncia? No Brs se diz que as marcas deixadas pelos italianos so indelveis. No Liberdade, idem para os japoneses. Mas os nordestinos tambm deixaram as suas, mesmo que mais intensamente na periferia. Os nordestinos tambm contriburam para fazer So Paulo ser o que hoje (e o que j foi alguns poucos anos atrs). Por que esse preconceito? Esse racismo? Sim, racismo. A segregao de uma pessoa, ou um grupo de pessoas, a partir de critrios relacionados a noes de raa, origem, posio social, considerada racismo. Ah, racismo muito pesado? Todo bem, fiquemos com xenofobia. Xenofobia tambm no adequado? No adequado ser xenfobo, meu caro. E digo mais: - O conceito de purezaracial, com muito prejuzo para as possibilidades futuras, se aceita na agricultura e na pecuria (veja o caso dos produtores de bananas e de cacau, acossado por pragas que vem dizimando os clones mais frgeis); - Nas relaes humanas uma insanidade. Exemplos h muitos, desde priscas eras: Sabemos dos vikings (e outros povos gerreiros), que ao pilhar e saquear os bens dos povos subjugados (invadidos), contribuam para melhorar a gentica daqueles; Sabemos, tambm, da poltica de apartheid, adotada pela racista frica do Sul, onde cidados conviviam em at quatro mundos paralelos, a depender de suas origens (e aparncia/compleio fsica%2About the Author:
Professor; Advogado; Servidor Pblico
Embark to face reality with The Wire seasons Cheap Accomodation in Barcelona - Great Offers! 4 Reasons Why Universal Refill Kits Just Do Not Cut It Unable To Load The Dynamic Link Library ? - Read This Now ! Groundbreaking site giving free Diet Plan How to Secure the Best Locum Pay Rates Do You Know How To Use Window Coverings Things to do in Lisbon Portugal Nuestro Trsnsito Por Este Plano Fisico Laser Teeth Whitening Não Abra A Porta O Abraço De Ana Paula How to Heal Temporary Shoulder Nerve Pain