O DIALOGISMO COMO PROPRIEDADE INERENTE AO ENUNCIADO
O DIALOGISMO COMO PROPRIEDADE INERENTE AO ENUNCIADO
De acordo com Jos Luiz Fiorin (2006, p. 18), o dialogismo, entendido aqui como as relaes de sentido ocorridas entre os enunciados de uma lngua, o princpio fundador da obra de Mikhail Bakhtin. No somente de sua concepo de linguagem, como de sua antropologia filosfica.
Bakhtin afirma que a linguagem, em seu uso real, tem a propriedade de ser dialgica. Todos os enunciados produzidos por uma lngua relacionam-se com outros dialogicamente, independente de sua dimenso. Segundo o filsofo a realidade s faz-se conhecer pelo homem atravs da linguagem, dos enunciados que esta permite criar.
A teoria bakhtiniana prope a criao de uma translinguistica, com a finalidade de estudar o enunciado, ou melhor, as relaes dialgicas que existem entre eles. Pretende analisar a linguagem em situaes reais de funcionamento e no apenas em sua estrutura.
O estudioso russo, a partir de suas concepes tericas, torna imprescindvel a distino de unidades da lngua e enunciados. Enquanto aquelas so os sons, as palavras e as oraes, estes so as unidades reais de comunicao, so nicos, impossveis de serem repetidos, sendo que cada vez que acontecem abrangem circunstncias diversas.
Fator importante de diferenciao de unidade da lngua para enunciado que o ltimo sempre resposta a outro, enquanto a primeira estanque, isolada em si mesma e no tem autor. Fenmeno constitutivo do enunciado sua inexistncia fora do dialogismo, uma vez que ocupa, invariavelmente, uma posio em um mbito de comunicao acerca de um determinado assunto, alm de possuir um autor. As distines so variadas: as unidades so completas e no permitem resposta, enquanto os enunciados so suscetveis rplica; aquelas so neutras, estes so cheios de sentido, de emoes, de juzos; as unidades da lngua tm significao, e os enunciados, sendo dialgicos, possuem sentido. Este, por sua vez, no apreendido apenas pela noo das unidades que constituem os enunciados, e sim pelo conhecimento prvio dos discursos que dialogam com eles.
Alm de o dialogismo ser o princpio fundador da obra bakhtiniana, o princpio constitutivo do enunciado. Todo enunciado , por excelncia, constitudo por dilogo, mesmo que este no esteja visivelmente presente no discurso.
O dilogo de que fala Bakhtin deve ser entendido como as relaes entre diferentes enunciados, que invariavelmente so construdos a partir, atravs, contra, ou em resposta a outros. Cada enunciado produzido representa duas faces, a que afirma e a outra, que nega, simultaneamente, o que se est afirmando, por exemplo, quando se diz: o texto finalmente est bem escrito. ', pressupe-se, atravs deste mesmo enunciado, que em algum momento ele esteve mal escrito.
Bakhtin analisa, tambm, a natureza social ou individual dos enunciados. Esclarece que todo enunciado sempre social, pois, alm de possuir um destinatrio imediato, consciente, dirigido a um superdestinatrio, que o monitora'. Este pode ser a Igreja, o Estado, a correo poltica, etc., dependendo da realidade social, da poca e do lugar no qual produzido.
Ao se produzir determinado enunciado em uma sociedade, constata-se a interao com ele de enunciados do presente, do passado e do futuro. Na formao social operam as foras que Bakhtin chama de centrpetas e centrfugas, sendo que a primeira age no sentido de centralizar o discurso, e a segunda busca a desconstruo atravs da ironia, por exemplo, desta centralizao. O terico afirma que h sempre uma sociedade, uma instituio, oficial ou convencional, que monitora a produo de enunciados. Nenhum enunciado produzido em uma situao totalmente livre. Nas palavras de Bakhtin, "No h neutralidade no jogo das vozes." (FIORIN, 2006, p.31). No entanto, o filsofo acredita que o sujeito de sua teoria (sujeito do mundo) pode resistir (relativamente) a todo processo centralizador de discursos, comum na sociedade. Ele pode preservar sua individualidade, mesmo que parcial, na afirmao da "interao viva das vozes sociais.", que acontece atravs do dialogismo.
importante destacar: o dialogismo constitutivo tem por natureza relacionar-se com enunciados j proferidos, que so e ainda sero, uma vez que, ao ser produzido, o enunciado espera uma resposta, (seja ela concordando com ele ou mesmo refutando-o) a qual ainda no existe. Imprescindvel ressaltar, tambm, que o dialogismo , estritamente, uma troca que acontece no nvel lingustico, j que uma relao dialgica entre enunciados; e no entre locutor e interlocutor.
No segundo conceito de dialogismo, de Mikhail Bakhtin, o estudioso fala de relaes dialgicas que esto visveis no discurso. Nesse caso, o narrador incorpora as vozes de outros enunciados em seu prprio. Aqui, o dialogismo est compondo o discurso. uma forma de "absorver" o discurso alheio e tornar visvel o que constitui, de modo inerente, a todos os enunciados, que o dilogo entre si. Para isso, possvel utilizar-se de dois mtodos: o primeiro o discurso alheio demarcado, onde o citado est separado do citante e que acontece atravs dos recursos discurso direto, discurso indireto, aspas e negao; o segundo o discurso alheio no demarcado, onde existe a juno do enunciado citante e do citado e que acontece atravs de pardia, estilizao, polmica clara ou velada e o discurso indireto livre.
Bakhtin apresenta maneiras de se estilizar ou parodiar um estilo. Desse modo, faz-se necessrio que se compreenda seu conceito de estilo. Para o terico russo, "estilo o conjunto de procedimentos de acabamento de um enunciado." (FIORIN, 2006, p. 46). So os recursos lingusticos, discursivos e textuais que cada autor utiliza na composio de sua obra, o que lhe confere um efeito de sentido de individualidade. Ressalva, ainda, que o estilo no subjetivo, uma vez que o resultado da viso de mundo do autor, logo, tambm de outros enunciados. O estilo, por construir-se tambm no mbito do dialogismo, revela dois lados, o direito e o avesso.
Fiorin esclarece alguns pontos que suscitaram equvocos em algumas anlises da obra bakhtiniana. O conceito de intertextualidade, por exemplo. necessrio no confundi-la com dialogismo. O filsofo russo distingue claramente uma de outro. Enquanto a primeira a relao que pode existir entre textos, o segundo uma propriedade do enunciado, do discurso. De acordo com as palavras de Fiorin, " O enunciado da ordem do sentido; o texto, do domnio da manifestao." (2006, p. 52). Sendo assim, a intertextualidade uma das composies do dialogismo que, por sua vez, inerente ao enunciado.
Em um ainda terceiro conceito de dialogismo, Fiorin nos faz conhecer o conceito de Bakhtin sobre a sujeio ou autonomia do sujeito em relao sua formao discursiva na sociedade. O estudioso russo no afirma nem uma nem outra. Tampouco nega qualquer delas. Assegura que o indivduo, enquanto produtor de enunciados dialgicos, e tendo como princpio constitutivo de suas aes o dialogismo, , simultaneamente, autnomo e assujeitado. As inmeras vozes ideolgicas e sociais que conhece ao longo do procedimento de constituio de sua conscincia sem dvidas lhe forma, porm de maneira nica, dado que cada indivduo assimilar de modo singular os resultados dos embates que essas vozes realizam nesse processo.
O enunciado, por ser dialgico, histrico. Fiorin nos esclarece, com muita propriedade, em relao a essa historicidade. Afirma que no conhecendo o perodo histrico ou a vida de um autor que encontraremos o sentido de qualquer enunciado. No so as circunstncias de produo de um enunciado, e sim o dilogo que realiza com outros, historicamente, que nos levar a seu entendimento completo.
Baseando-se nas teorias de Bakhtin, pode verificar-se, sobretudo, a intensidade criadora dos enunciados, visto que nos levam ao conhecimento da realidade. Do mesmo modo, torna se irrefutvel sua natureza dialgica, j que pudemos constatar que no existe fora do dialogismo, no acontece sem estar em intensa relao com outros enunciados j produzidos, e por produzir.
Um aspecto considerado imperioso de ser ressaltado de que o dialogismo aqui estudado uma relao estritamente entre enunciados. O dilogo realizado entre eles , invariavelmente, de natureza lingustica. Seus embates, acordos, desacordos, sujeio e autonomia acontecem no mbito das ideias.
A partir dos conhecimentos adquiridos sobre a teoria bakhtiniana, sob a tica minuciosa de Fiorin, podemos perceber o enunciado acompanhando historicamente a humanidade. Refletindo, em seu prprio exerccio, as aes dos homens, seus ideais, crenas e temores, atravs de diversas manifestaes e ao longo do tempo. Tal constatao vista com propriedade, desde que se tem conscincia de que a linguagem, e, por conseguinte, o enunciado dialgico, a mais pura e complexa manifestao da natureza humana e sua histria.
O DIALOGISMO COMO PROPRIEDADE INERENTE AO ENUNCIADO
Por:
Cristiane AntunesPerfil do Autor
Acadmica do curso de Letras (Artigonal SC #3421610)
Fonte do Artigo -
http://www.artigonal.com/linguas-artigos/o-dialogismo-como-propriedade-inerente-ao-enunciado-3421610.html
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