Português tortura brasileiros
Portugus tortura brasileiro
Portugus tortura brasileiro
Cleofas Reis/Jornalista
cleofasdefariasreis@hotmail.com
O ttulo no se refere a crime de patrcio de Cames contra um nacional que merecesse interferncia de defensores dos direitos humanos. alusivo a uma tortura idiomtica. Recentes mudanas na ortografia da lngua portuguesa so uma pequena amostra do grande desafio que ela representa. Se falar bem no fcil, dificuldade maior escrever corretamente. Vale para letrados ou no. O portugus, cheio de armadilhas, j enredou escritores clssicos e suscita divergncia entre fillogos.
Na elaborao de um texto que se pretende fazer entendido, fundamental de incio que haja clareza de idias, que estas estejam concatenadas, isentas de repeties. um cuidado que independe da correo ortogrfica e de um conhecimento mnimo de vocabulrio que, se no faa o leitor apelar repetidamente ao dicionrio, denote pelo menos manejo de termos que facilitem a leitura.
Disse ser nossa lngua grande desafio. Mas poderia substituir a ltima palavra por tragdia, atingindo a maior parte da populao, inclusive muitos que receberam canudo de uma faculdade. Mesmo profissionais da imprensa, que tm obrigao de escrever ou falar corretamente, so ficam isentos de ressalvas. No cogito que os colegas cheguem a lembrar um Machado de Assis, mas seria bom que no cometessem erros como no raro constatamos na leitura das folhas.
Todos ns somos passveis de erro no vernculo. Um excelente redator no se pode julgar infalvel. Se algum afasta possibilidade de dar a mo palmatria em ortografia, no est livre de escorregar, por exemplo, numa concordncia, na regncia verbal, no uso do verbo haver significando existir, no emprego da crase. As falhas podem acontecer tambm no estilo, na utilizao de palavras que acusam redundncia ou o chamado "bvio ululante" do saudoso Stanislaw Ponte Preta. Incluo-me entre aqueles que publicaram frases que, se tivesse revisado antes cuidadosamente, teria modificado.
A lngua portuguesa, para muita gente, assume ares de bicho-papo e at de tortura. De vez em quando, jornais divulgam "prolas" cultivadas nas conchas-cabeas dos submetidos a provas de redao, em vestibulares. Jias iguais em brilhantismo e pureza poderiam ser obtidas de muita gente boa atuando por a como advogados, mdicos, engenheiros e noutras profisses de nvel superior, na hiptese de se lhes solicitar a elaborao de um texto.
Talvez uma das razes de a nossa lngua estar sendo to maltratada seja o abandono de uma prtica que havia na antiga escola primria, o ditado. A professora primria no o dispensava para corrigir os erros. Adotava-se tambm a cpia, o que obrigava a criana a ler e gravar a grafia correta das palavras.
H outros fatores: a degradao profissional do professor, que teve perdas salariais sucessivas; o descaso dos governos em melhorar a sua capacitao; o crescente nmero de estabelecimentos particulares de ensino que elegem como objetivo primordial (oculto, claro) o lucro, sem compromisso com a melhoria da qualidade do ensino; a falta de estmulo dos alunos leitura e, neste particular, de bibliotecas pblicas; os altos preos de livros (os de bolso ou mais baratos so poucos) e inexistncia de uma cultura de ler como ocorre em alguns pases.
Quem no professor de portugus, ou no tem a obrigao de revisar textos, est livre de constantemente quase chorar ou sempre rir, sentimentos que essas tarefas tanto provocam. No escapa, entretanto, como eu, de ouvir muita gente boa dizer, por exemplo, que "haviam muitas pessoas", quando o certo havia, e "gratuto" em vez de gratuito (sem acento no i e a nfase da pronncia no u). Acham pouco? Ento se lembrem do menas gente...
Portugus tortura brasileiros
Por:
Cleofas ReisPerfil do Autor
(Artigonal SC #3229755)
Fonte do Artigo -
http://www.artigonal.com/literatura-artigos/portugues-tortura-brasileiros-3229755.html
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